DO TEXTO AO HIPERTEXTO E ALÉM
O
debate acerca das definições conceituais do que é texto tem gerado inúmeros questionamentos.
Quanto à etimologia, o termo origina-se do latim: textus, de textum (tecido, entrelaçamento). Assim, originariamente seria
o entrelaçamento de signos linguísticos, que uma vez unidos são capazes de
produzir sentido.
De
forma genérica, trata-se de uma manifestação da linguagem, que produzido em
contextos diversos, utilizando-se de emissores e receptores como sujeitos interacionais,
(re)significam elementos gráficos transformando-os em mensagens.
O
certo é que, a depender da abordagem teórica adotada, um objeto poderá ser visto
de diferentes formas. Com o texto não poderia ser diferente.
Para
Bakhtin, texto é todo sistema de signos cuja unidade se deve à capacidade de
compreensão comunicativa do homem. Para que ocorra essa compreensão pressupõe-se
a existência de uma língua, e de um processo interacional que ocorre por meio
da linguagem. Mais do que um emaranhado de palavras como as contidas no
dicionário, o texto realiza-se no cruzamento de sujeitos discursivos
mobilizados pelos significados criados nos movimentos comunicativos (Machado,
1996, p. 93)
Segundo Koch (1995, p. 22):
O texto pode ser
concebido como resultado parcial de nossa atividade comunicativa, a qual
compreende processos, operações e estratégias que têm lugar na mente humana, e
que são postos em ação em situações concretas de interação social.
De
acordo com essa análise, texto é o resultado de um processo interativo verbal
entre os sujeitos que estão atrelados as finalidades sociais.
Esse
processo relacional que atribui significados linguísticos é construído através
da atuação conjunta de fatores situacionais, cognitivos, socioculturais e interacionais.
São esses elementos os agenciadores textuais capazes de atribuir sentido as palavras.
E é esse sentido que proporciona que “isso” ou “aquilo” possa ser considerado
texto.
Marcuschi
apoiando-se na teoria de Beaugrande dispõe que o texto, como objeto da
linguística textual, é influenciado por fatores cognitivos, linguísticos e
sociais. É de per si um sistema de
conexões múltiplas, formado por multisistemas (linguísticos e não linguísticos)
multifuncionais, tais como: sons e palavras. O texto não é simplesmente um
artefato linguístico, mas um evento que ocorre na forma de linguagem inserida
em contextos comunicativo (Marcuschi, 2008, p. 75 e 76). Em suma, é um ato
comunicativo que extrapola o mero agrupamento de palavras.
O
ato de ler engloba diferentes ações e poderá ser realizado em vários suportes.
Sabe-se que a leitura é um ato milenar e se apoia em elementos verbais e não verbais.
Isto quer dizer que o ler poderá ser feito através de materiais impressos (ex:
livros, jornais, placas, e etc) e agora também por meios digitais.
Com
o avanço da tecnologia sedimentou-se a leitura do e-texto (electronic text),
que é aquela feita com o auxilio de suportes tecnológicos, tais como: blogs,
redes sociais, e-books, tablets, celulares e etc.
Surgiu
um novo gênero textual: o hipertexto. Segundo Xavier (2004, p. 171):
Por
hipertexto entendo ser uma forma híbrida, dinâmica e flexível de linguagem que
dialoga com outras interfaces semióticas, adiciona e acondiciona à sua
superfície formas outras de textualidade.
Trata-se de uma proposta não linear, em que o autor sugestiona
caminhos para a palavra, com a utilização de recursos gráficos, de imagens e a indicação
de hiperlinks.
Este vem transformando a leitura, atribuindo-lhes
características de um self-service, em que o leitor (ora consumidor) pode
servir-se dos vários elementos contidos nos sítios digitais, da forma que
melhor lhe aprouver (XAVIER, 2014, p. 174)
O mundo virtual inseriu ou reconstruiu várias práticas
sociais, inclusive o ato de ler. Surgiram novas formas de comunicação, o leitor
tornou-se um navegador digital, assumindo a função também de personagem da história,
com participações ativas, passivas, críticas e sociais.
De
fato a evolução tecnológica, e os novos paradigmas de escrita diferenciam-se das
anteriores, que eram individuais (personalizados), haja vista que incorporaram
um viés coletivo, onde os escritos passaram a serem objetos compartilháveis simultaneamente
e passíveis de diferentes construções por vários leitores.
Assim,
tem-se que o texto enquanto objeto transformou-se em um processo ainda mais interacional,
com características múltiplas, sem identificação de conteúdo, tempo, lugar e espaço absolutos.
Por fim, na minha concepção, acredito que texto é todo enunciado capaz de produzir sentido. Então, além das concepções já padronizadas, tais como: a palavra escrita-linguagem verbal. São também textos: as pinturas, as músicas, a linguagem não verbal, os hipertextos, os filmes...enfim, qualquer unidade linguistica com significado é texto.
REFERÊNCIAS
ARAúJO, Luciana Kuchenbecker. "O
que é Leitura Digital?"; Brasil Escola. Disponível em:
https://brasilescola.uol.com.br/o-que-e/portugues/o-que-e-leitura-digital.htm.
Acesso em 03 de maio de 2021
KOCH, Ingedore. O
texto: construção de sentidos. Organon, v. 9, n. 23, 1995.
MACHADO, Irene A..
Texto como enunciação. A abordagem de Mikhail Bakhtin. Língua e Literatura, n.
22, p. 89-105, 1996.
MARCUSCHI, Luiz
Antônio. Gêneros textuais emergentes no contexto da tecnologia digital.
Hipertexto e gêneros digitais. Rio de Janeiro: Lucerna, v. 3, 2004.
SOUZA JÚNIOR, Edson Félix de et al. Hipertexto: início, evolução, características. RBBD. Revista Brasileira de Biblioteconomia e Documentação; v. 14, n. 2 (2018); 44-57, v. 24, n. 2, p. 57-44, 2018.
XAVII-IR, Amomo CARLOS. Leitura, texto e hipertexto. 2004.

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